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quarta-feira, 12 de junho de 2013

I ENCONTRO NORDESTINO DE PICs EM JUAZEIRO

Esta é a última postagem sobre o Encontro de PICs de Juazeiro. Quero partilhar umas poucas das inúmeras coisas que encontrei ali. Quem leu a última postagem verá que me repito em alguns comentários, mas as pessoas citadas merecem, tenham certeza disso.

A Enfermeira e parteira Suely Carvalho foi de uma propriedade e simplicidade (paradoxalmente) espetacular em suas falas no encontro. Admirável. Tem larga experiência com o parto domiciliar e é uma pena que não seja escutada como deveria. Pouco antes de ir ao Encontro li em jornal de Salvador uma matéria intitulada “Gestante peregrina quatro dias por hospitais em busca de atendimento”. Isso é fruto da hospitalização do parto. Entender o parto como patologia, como algo a ser tratado como doença leva a condutas que cada dia mais vão sobrecarregar o serviço público. O hospital e o domicílio deveriam ser vistos como complementares no atendimento à parturiente, como o que ocorre na Holanda, país que tem o menor índice de infecções puerperais e o maior índice de parto em casa.

Aproveito esta chamada sobre Suely para comentar que as filas enormes que o SUS acumula decorrem da medicalização da vida. Hoje somos chamados a ver cada um dos nossos problemas como passíveis de solução sem nenhum investimento emocional, ativo, pessoal, sem subjetividade. Somos tratados como objetos inertes diante da ação da doença a ser combatida pela intervenção salvadora do profissional da saúde. Urgentemente precisamos repensar o modelo de saúde. Faz-se necessária a adoção real da Estratégia de Saúde da Família em todos os municípios do Brasil e um amplo trabalho nos moldes da Terapia Comunitária do prof. Adalberto Barreto, ou da ação de Celerino Carriconde, como forma de atender a uma necessidade óbvia, mas pouco considerada, que é a participação efetiva do sujeito no seu processo de cura. Não espero que os clientes saibam mais que os médicos (contra-argumento usado frequentemente), mas espero que nós, profissionais da saúde em geral, entendamos que temos no cliente um sujeito com partes materiais (biológicas), dotado de subjetividade e que faz parte de um entorno socioambiental. Do ponto de vista da valorização econômica do médico pode ser útil medicalizar a vida, mas isso com o tempo irá gerar cada vez maior congestionamento dos serviços de saúde, para dizer o mínimo.

Vejam palavras de Celerino Carriconde: 1. “Onde está a palavra está o poder”; 2. “Quem não participa está desempoderado, está doente”;3. “Não mais revolução para o povo, mas com o povo”. Em uma fala sobre a apropriação do conhecimento pela comunidade. Conheçam este sujeito e vão se admirar dele.

Chorei de emoção com a apresentação da professora Lenice Maia, sobre o trabalho que ela e equipe fazem no Hospital das Clínicas de Recife. As fotos dos pacientes encantados com corais, teatro e música... Os resultados quantificados em gráficos mostrando a recuperação e o conforto dos internados é algo de arrepiar o mais duro dos homens.

A professora Anamélia Franco da UFBa, falou sobre o Bacharelado Interdisciplinar em Saúde (BI). Fiquei com a maior inveja dos estudantes que passam por este curso que, em realidade introduz os jovens (e também os não jovens) em um mundo bem mais amplo do que aquele das estreitezas de uma carreira estrita. O contato com aqueles que são alunos da BI confirma amplamente isso. Tenho certeza que quem cursa BI e depois se dedica à medicina, fisioterapia etc. será profissional que se destacará no cuidado. Aliás Anamélia foi uma das pessoas que se destacaram, mas para mim, não apenas pelo conhecimento e competência, sim também pela cara angelical e ao mesmo tempo traquinas. É especialista em futucar as pessoas para fazê-las se mexer.

O professor Nelson Filice Barros deu um show em sua fala. Sua presença era de tranquilidade e paz enquanto nos conduzia por uma apresentação pelos caminhos do conhecimento das PICs e mostrava até as relações de poder que estão por trás da atitude da sociedade frente às PICs. Queria ver sua fala por escrito, pois não deu para anotar tudo. Excelente!

Sei que estou sendo injusto com outras pessoas que brilharam neste evento em Juazeiro, sob a batuta do brilhante Alexandre Barreto, mas teria que escrever um livro se fosse dizer tudo. Não assisti a nenhuma mesa que possa ter dito “essa não valeu a pena”. Espero que estas poucas linhas para tão grande evento sejam úteis e estimule a quem leia.

Recebam um abraço estimulante de Aureo Augusto.

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