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quinta-feira, 22 de setembro de 2011





Estamos entrando na 41ª semana de gestação. Um momento muito especial, de despedida da barriga (esta deve ser a minha última gestação), de expectativa pela chegada de mais um filho, de ansiedade para finalmente segurá-lo (ou, segurá-la) nos braços.

Sim, não quis saber o sexo do bebê. Pessoalmente acho estranha a necessidade que se tem atualmente de saber se é um menino ou uma menina que está para chegar. Geralmente, independente de nossa vontade, o desenvolvimento do embrião ocorrerá. Com todo o seu esplendor e potencialidades. O nome? A decoração do quarto? A cor do enxoval? Como fazer? Rosa ou azul? Sinceramente, nada contra, até bem a favor, de quem curte a beleza desses detalhes. Também fico maravilhada diante de um quartinho de bebê super-bem-decorado... Mas, prefiro dar prioridade a outras questões. Seja menina ou menino, o bebê que está para chegar é uma pessoa diferente de suas irmãs, não vai dar a mínima para a decoração do meu quarto (porque vai passar um tempo compartilhando o quarto comigo e com o papai), e o seu nome já está definido (foi surgindo, secretamente e só anuncio depois que a pessoinha chegar). Precisará de uma mãe inteira, disposta a aconchegá-lo(la) e amamentá-lo... Os paninhos, roupinhas e acessórios couberam todos em duas gavetas do meu guarda-roupa, gentilmente cedidas. Aliás a irmã mais nova também cedeu uma gavetinha da sua cômoda para as fraldinhas de pano. Porém, preciso confessar um pequeno desvio de conduta: confeccionei lembrancinhas de maternidade. No meu caso, creio, com o parto domiciliar, serão "lembrancinhas de nascimento". Não resisti a essa "peruísse" de mãe moderna.

Mudando de assunto, faz umas três semanas que precisei me afastar do mundo. Cansaço, dores musculares e uma necessidade enorme de dar um tempo na correria do cotidiano. Sou mãe, estudante (de Enfermagem, voltei para a faculdade aos 36 anos), professora de adolescentes (lindos!) e doula/assistente perinatal (com Mary). Mas como é difícil fazer isso, afastar-se do mundo... As atividades, os acontecimentos, as obrigações, as demandas sociais e afetivas continuam chamando a atenção. Desse modo, apesar da tentativa de relaxar, continuei cansada e estressada. Às vezes, uma megera insana... Fui salva por minhas amigas/parteiras queridas, Mary, Marilanda e Adriana. Passei dias maravilhosos na Ilha de Itaparica, com direito a tratamento de rainha, mar, sol, incensos, massagens, abraços, carinhos, conversas cabeça e conversas besteirol total. O mais importante? Sentir-me acolhida, protegida, cuidada... Serei eternamente grata a estas amigas por esses dias tão especiais.

Chegamos ao final desta postagem. E agora? Agora estamos no final, eu sentindo contrações que variam em intervalos d 10-15 minutos. Incômodas e começando a sentir dor. Pouquinha dor, no pé da barriga e nos quadris. Sinto que preciso me movimentar, caminhar. E dar um tempo da pressão do "tempo que está acabando"... Tenho reforçado para mim mesma que é possível e natural esperar pela hora real do nascimento. Pelo nosso tempo. Talvez essa "demora" seja devida à necessidade de resgatar o tempo que faltou para que o nascimento de Letícia (minha segunda filha) acontecesse espontaneamente. O momento também é de aprendizado.

Ontem fizemos uma despedida da barriga, aproveitando a visita de Mary (que me ajudará na recepção do bebê) e de Ula, uma amiga muito querida, antropóloga, defensora da nossa causa, o parto natural, e, claro, super-inteligente e gente boa. A barriga foi transformada numa tela, dividida ao meio, e as meninas expressaram as suas bênçãos e criatividade para o bebê.

Fico por aqui. Espero que, quando escrever novamente, seja para contar sobre o encontro entre eu e meu bebê querido. Pensamentos positivos!



quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Convite!

Salvador, 13 de setembro de 2011.

Fui chamada por Mary para uma conversa há algum tempo, mas não estávamos em sintonia e não nos encontrávamos. Num certo momento pensei e automaticamente liguei. Consegui.
Nos encontramos no dia e horário combinado e fui surpreendida por um convite muito especial. Trabalhar como Ajudante Peri-natal por um tempo enquanto Liliana curte seu momento mãe. Realmente a sintonia tão forte que Liliana ligou e pude então pedir permissão, mesmo por telefone, para tentar substituí-la.
Tínhamos nos visto apenas uma vez num momento de aprendizado em uma oficina para gestantes, mas mesmo assim percebi que ela não estava bem, perguntei se queria minha ajuda, e ela recusou, fiquei sem graça, mas me colocando em seu lugar, como eu reagiria a invasão de uma estranha em meu território?
Mary a propôs sair para caminhar na praia, gostei da idéia e me ofereci para acompanhá-la, só que dessa vez sem pedir permissão.
Fui em casa, me organizei, afinal também sou mãe, e munida de biquíni e boa vontade saí para encontrar Liliana de surpresa. Chegando ao endereço liguei para saber qual era a casa e descobri que ela havia saído. Resolvi procurá-la aos redores e a vi, estava com uns óculos escuros enormes e um barrigão lindo! 
Nos abraçamos e saímos caminhando. Mostrei que estava de biquíni, e Liliana resolveu também vestir o seu.
Passamos a tarde toda conversando, trocando experiências e boas energias. A beira da praia, sentadas na areia, sob um céu maravilhoso descarregamos nossas energias para que as ondas levassem para onde não pudesse nos fazer mal.
Com um abraço nos despedimos no final da tarde e quando já estava em casa, embaixo do chuveiro refletindo sobre tudo que aconteceu, entendi a importância da oportunidade que fui presenteada. Senti o que “doular”.
É permitir prestar atenção, é uma troca de energias, é doação mútua. É entender que enfrentando nossos problemas e angústias podemos ajudar o outro a também enfrentar. É ver que se impor diante de situações limite e encará-las é prazeroso.
Dizer ao outro o que sente, desabafando é saudável.
Parir é mais que o ato fisiológico, é renascimento.
Ser mulher é maravilhoso!


Vamos lá Liliana!
Obrigada Mary, amei!

Júlia Gonçalves

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Relato do Artur - pai de Yana - Maio de 2010

Pré parto
Quando Tâmara me contou o plano que tinha para o nascimento da Yana eu não demonstrei muito entusiasmo porque tive medo, os medos diversos do tipo com a segurança, junto a isso uma imagem de sangue e sofrimento, etc. Eu sabia que em um hospital isso seria minimizado.

Pensei que Tâmara mudaria de opinião com o tempo o que não aconteceu, mesmo eu tentando de algumas maneiras. Ai veio o encontro com Mary e também a proximidade com o parto, assisti alguns filmes sobre o assunto e de uma certa forma fui me atentando que era isso mesmo, eu tinha que enfrentar.

· Parto
Tínhamos feito alguns planos de como seria quando chegasse o momento do parto e de uma certa forma foi muito bom, quando Tâmara começou sentir as primeiras dores, logo acionamos Mary e isso acalmou a todos.

Mas quando de fato o parto começou e me vi envolvido naquela tarefa que eu não tinha idéia de como reagir, me senti só, vi que era fraco, pensei em correr, porque tinha aceitado isso etc. Mas a parteira estava ali, isso me deu alguma força.

As horas passavam o nenê não chegava e minha ansiedade interna aumentava. Meus medos passavam por mim, mas acredito que decidi manter a calma e confiar e me entregar de coração, queria ver todos bem e salvar minha mulher. Salvar ela foi uma força que me acordou me fez ser útil, porque na minha cabeça a parteira estava cuidando da criança, e ver Tâmara sofrer me enchia de culpa.

Tâmara passou a ser muito importante na hora do parto e senti que tinha que ajudá-la porque ela precisava ouvir minha voz e entender que eu estava ao lado dela, que a amava e que ia salva-la.

Veio então depois de 12 horas o nascimento da Yana, fiquei emocionado de uma maneira nunca antes experimentada, o tempo tinha parado naquele momento. A imagem não era como eu tinha pensado, a criança chegou linda e limpa não tinha sangue, a mãe tinha um rosto sem dor tudo estava parado.

· Pós Parto
Aquela experiência mexeu muito comigo, se tento me recordar me emociono novamente.
Durante 2 dias chorei constantemente, depois disso descobri o amor e de uma maneira o milagre que é estar vivo, a pulsação do cordão umbilical que cortei de minha filha me mostrou a responsabilidade que eu tinha com aquela criança.

Deus me deu uma vida pra cuidar, eu pensei! A experiência me transformou numa pessoa muito superior que descobre o amor e que a vida é um milagre e que precisamos acreditar no mistério que rege tudo.
Fiz um ritual onde enterrei a placenta e agradeci a Deus a minha esposa e minha filha por ter me dado aquela emoção de saber que eu estou vivo e que sou parte daquele momento. Tenho escrito a todos sobre esta experiência e digo aos amigos que se puderem, nunca deixem de viver isto, em um hospital acho difícil vivenciar este momento.

Claro que as palavras dizem pouco, mas o que sei é o que o sentimento continua agindo dentro de todos na família. Agradeço muito também a Mary Galvão e a Liliana que me conduziram por aquele caminho.

Muito amor.

Parto de Tâmara – Nascimento de Yana

Por Liliana Silvera, Assistente Perinatal e Doula Atua junto a Mary Galvão

Salvador, 17/05/2010, 14:17.

No mês de março num encontro com minha amiga parteira Mary, fui comunicada que uma gestante de 7° mês havia lhe telefonado para marcar uma consulta. Segundo ela, a gestante expressou interesse em parir em casa pois sua 1° filha nasceu em uma maternidade em São Paulo, há 2 anos, e lhe causou alguns problemas decorrentes das rotinas hospitalares. Nesta conversa foi relatado as impressões iniciais que a parteira teve com relação a gestante. Tâmara se mostrou calma, introspectiva e muito segura do seu posicionamento em relação a escolha do local do parto. Residindo no Brasil há 5 anos, ela é casada com um brasileiro, que conheceu em seu país- Inglaterra
Conheci Tâmara uma semana antes do parto, ela estava sendo acompanhada pela parteira (enfermeira obstetra) há cerca de um mês. Ela morava em São Paulo e chegou com a gravidez adiantada a Salvador, acompanhando a parteira numa das suas visitas domiciliares à gestante. Ela se queixava de cólicas. Parecia ser a iminência do trabalho de parto. A parteira acreditava que o trabalho de parto transcorresse rapidamente com pouca dor, pois Tâmara relatou que na sua primeira gravidez, há quase três anos, foi assim que as coisas aconteceram. Pouca dor e quando chegou ao hospital em São Paulo, já estava com 8cm de dilatação.Ficamos por uma hora na casa dela. Fui apresentada ao marido e à filhinha de quase dois anos. A parteira acompanhou os batimentos cardíacos do bebê e as contrações, que eram indolores e pouco intensas. Concluímos que eram os pródomos e que era melhor voltarmos às nossas casas.
Eu, que acabava de chegar naquela história, me coloquei na posição de observadora atenta e discreta. O final da gestação é um momento muito delicado, de expectativas, recolhimento e reflexões. Pessoas estranhas podem atrapalhar. Seja por causa de palpites indevidos, pela presença invasiva num momento tão íntimo, seja pelo desequilíbrio energético que possa vir a provocar no ambiente. Eu ainda me considerava estranha naquele processo.
Após uma semana, numa segunda-feira, 17/05, fui acordada às 03:30 por Mary: tudo indicava que o trabalho de parto começava. Pressentindo que o trabalho de parto iria transcorrer rapidamente, chegamos à casa de Tâmara. às 04:30. Chegando lá fomos recebidas na sala da casa por ela e seu marido Artur, que nos ofereceu chá.
Iniciamos uma conversa bem baixinho para não acordar a filhinha que dormia. Conversa pouca, para dar espaço ao silêncio, enquanto a parteira avaliava a intensidade das contrações de intensidade média a cada 20 minutos
Ficamos as três ali sentadas no sofá até as 8:00 horas acompanhando a evolução da dinâmica uterina. Antes disso, por volta das 07:00, a filhinha de Tâmara acordou e acabei me ocupando com ela. Essa “ocupação” foi providencial. Eu e Tâmara ainda estávamos nos acostumando uma com a outra, melhor dizendo, eu esperava que acontecesse alguma sintonia, já que não houve tempo para formar um vínculo afetivo. Participar do parto de alguém, ainda mais se tratando do ambiente doméstico, é algo que requer muita sutileza e afinidade. Era preciso que eu desse tempo natural para criar sintonia.
Quando as contrações se tornaram mais fortes e freqüentes, Mary e Tâmara foram para o quarto para o primeiro exame de toque vaginal. De lá veio a boa notícia: 7 cm de dilatação! Cogitamos (eu e a parteira) que o parto aconteceria por volta das 10:00. A partir daí as contrações se intensificaram, mantendo o intervalos regular de 20 minutos.. Por volta das 09:30, Tâmara estava com muita dor, foi acompanhada ao banheiro onde estava preparado previamente um banho relaxante com ervas e aromas.Sentindo-se cansada e com sede, pediu a Artur que lhe trouxesse um suco. O mesmo prontamente atendeu seu pedido com uma taça de suco de maracujá, que era para ser fraquinho, mas veio forte e foi tomado rapidamente. O clima na casa era bem tranqüilo, porém a filha pequena começou a ficar inquieta e foi levada para a casa de uma amiga da família. Sem a distração provocada pela inquietação da filha, as 10:30 Tâmara resolvei ir para o quarto que foi cuidadosamente preparado com um grande colchão tipo tatame, almofadas, travesseiros, velas, flores e aromas para acolher o momento do parto. O material a ser utilizado pela parteira bem como as roupinhas da bebê foi organizado numa mesinha próximo ao colchão
Tâmara já inquieta, experimentava várias posições buscando conforto. Quase não falava, porém mantinha-se ainda bastante atenta aos movimentos externos, observando o ambiente e nós à sua volta. Eu me aproximava aos poucos, preocupada em não atrapalhar o clima, mas também tentando relaxar e me inserir de forma tranqüila naquele cenário. O tempo foi passando, ela sentindo vontade de fazer força, ficou de quatro por um bom tempo. Depois, resolveu tentar ficar de cócoras e assim permaneceu entre o período das 11:00 às 12:30, tentando ajudar Yana nascer.
Durante esse período, sugerimos que ela mudasse de posição, que caminhasse um pouco entre as contrações, porque agora o intervalo entre as contrações era curto, cerca de 5 minutos. Mesmo com o grande poder de Tâmara e do nosso encorajamento verbal e físico porque eu e o marido ajudamos a mantê-la na posição de cócoras, ela falava que aquelas contrações não eram suficientes, que ela “parecia que não sabia fazer força direito”, que o plástico que estava embaixo do lençol não protegeria o colchão dos fluidos que saiam dela.
Decidimos gestualmente, deixar o casal a sós. Fomos para a sala. Também estávamos precisando de um tempo para respirar, falar sobre nossas impressões. O que estava acontecendo? O marido tinha me comentado que o primeiro parto foi “encorajado” por cerca de cinco enfermeiras através de puxos dirigidos, porque no 1° parto realizaram manobra de Kristeller. Comentei isso com Mary, que acrescentou que Tâmara relatou ter rsido submetida também ao uso de ocitocina sintética e episiotomia. Observamos que a parturiente mantinha-se mentalmente muito ativa, não se entregando ao processo (neocortex ativo). Deixei que Mary retornasse sozinha para o quarto. O marido parecia também estar tão inibido quanto eu. Por vezes ficamos os dois do lado de fora, esperando. Em algum momento resolvi fazer uma sopa, para a mãe tomar depois do parto. Essa atividade também me distrairia um pouco. Talvez servisse de estímulo, para ela, sentir o cheiro da comida, pois a cozinha ficava bem perto do quarto.
Até as 13:00, nos alternamos todos para dar suporte a Tâmara, que continuava insistindo em fazer força durante as contrações. Porém, o discurso dela, antes era autocrítico, passou a ser pessimista. Ela dizia que não conseguiria, que estava cansada e que pensava em ir ao hospital. Novamente a parteira e eu fomos para sala. Refletir sobre o motivo do prolongamento do período expulsivo. O marido saiu para levar alguma coisa para a filha, na casa da vizinha amiga. E agora? O bebê estava quase coroando. A cabecinha estava visível através da vulva já entreaberta. Os batimentos cardio-fetais continuavam rítmicos, mas ela sugeria ir para o hospital. O marido retornou e resolvemos conversar os quatro. Tâmara falava que estava com sono. Concluímos que o suco de maracujá oferecido à Tâmara surtiu efeito sedativo, e esse era o motivo dela estar tão sonolenta.
A parteira olhou para ela com firmeza, e informou que se ela optasse pelo hospital seria bem provavel a indicação de uma cesariana, haja visto que a decisão seria da equipe médica. Porém a decisão de ir ou não dependia tão somente dela.Mas ela só falava em dormir. Decidi me pronunciar, que ela dormisse se assim quisesse, e foi o que ocorreu. Tâmara dormiu por cerca de vinte minutos, de lado, com um travesseiro entre as pernas.
Após esse curto período, vieram ruídos do quarto. Gemidos cada vez mais altos. Será que algo estava acontecendo? Permanecemos atentas ouvindo os gemidos, foi então que. o marido nos chamou, e lá fomos nós. Estava perto das 14:00. Já tinha chovido e estiado, fazia um ventinho fresco. Nos acomodamos no quarto. A parteira deitada de lado, no colchão, olhando Tâmara. Eu ajoelhada na beira do colchão, perto dela, e o marido inquieto, de pé. Antes disso, Tâmara pedia comida, estava com fome. Tomou um café com leite, que seria mais conveniente, devido ao adiantado trabalho de parto. Tâmara voltou a se queixar de dor e não mais de desconforto. Ficou de quatro. Eu tinha me levantado, ido à cozinha, e quando voltei encontrei ela com aquele olhar selvagem, intolerante. Dizia que “estava vindo”. O marido, aparvalhado, de pé. Eu passei por trás dela e vi. O bebê tinha coroado! Tâmara gritou: “ venha Mary, tá nascendo!”.
Foram umas cinco contrações. Mudamos Tâmara de posição, para proteger o períneo e a vulva, pois o bebê vinha com muita força. Sentei junto dela, que se recostou nas almofadas. Segurei a sua coxa contra o meu peito, apoiei o seu pé na minha coxa. A parteira no meio, protegendo o períneo de Tâmara, que gritava: “ não vou agüentar, ta me rasgando”! O marido em pé, ao lado, continuava aparvalhado, a expressão do seu rosto era muito forte. Com três contrações Yana nasceu. Rosada, esperta, olhando tudo. Quase não chorou. Foi para o colo da mãe. O pai se aproximou chorando. Quando o cordão parou de pulsar, Mary convidou o pai a fazer o “ritual de separação” mãe-bebê, oferecendo-lhe a tesoura para proceder o corte. Nesse momento Mary entoava em ritmo de oração: “ é o pai quem corta os laços, esse é o seu papel” . Em seguida, ela se ajoelhou diante de Yogananda (seu mestre espiritual). Senti naquele momento a fé que me envolveu o tempo inteiro, mesmo nos momentos de desânimo.
Após o nascimento, Yana mamou por uma hora com pega perfeita, de livro didático. Depois de uma hora, ajudamos Tâmara a eliminar a placenta , que veio íntegra, amparando-a de cócoras. Pesamos e medimos Yana: 3,400kg; 51cm. Mais uma surpresa: a altura uterina sugeria um bebê bem menor. Se bem que a mãe dizia que ela não parecia se acomodar direito na barriga.. Olha aí o motivo. Acompanhei o curativo do umbigo, feito pela parteira, que conferiu o cordão umbilical. Ajudei o pai a dar o primeiro banho de Yana, no balde. Depois ele foi ajudar a parteira a cuidar de Tâmara. Eu fiquei cuidando daquela pessoinha tão esperta. Ela chupa dedo! Toda perfeitinha, linda!
Organizamos todo o quarto, a cama já estava arrumada e cheirosa quando Tâmara voltou do banho para tomar a sopa, com suco de uva e pão. Yana voltou a mamar quando a mãe terminou de comer. Já era quase noite e logo chegaram os pais de Tâmara, com a amiga e a outra filhinha dela. Uma festa! Eu e a parteira fomos saindo discretamente. O momento pertencia à família. Estava tudo muito bem.
Mais uma vez percebi que as pessoas e os seus processos, em especial os fisiológicos, têm o seu tempo. Não seguem padrões. Lembrando, o trabalho de parto transcorreu quase todo com contrações em intervalos de 20 minutos, aproximadamente. Não seguiu os padrões dos manuais de obstetrícia. A mãe estava muito mental, muito ligada? Talvez. Mas e se ela for assim? E se esse for o modo natural dela? Seria saudável tentar mudar esse jeito de ser? Seria possível mudar isso? Seria conveniente para quem? Estou concluindo, mais uma vez, que não dá para separar eventos biológicos, fisiológicos, da emoção, da história de vida da pessoa. Parece algo tão simples, tão natural. Mas a gente continua fragmentando e compartimentando tudo. Como é difícil deixar acontecer! Mesmo que mantenhamos uma vigia cuidadosa, como no caso de um trabalho de parto. Porém, é preciso dar tempo ao tempo. Dar tempo para mim. E dar tempo para mim é deixar que a minha ansiedade se vá. É ir para a cozinha fazer uma comidinha. É brincar com uma criança enquanto deixo alguém se acomodar com a minha presença. Às vezes sair discretamente quando a minha presença estiver inibindo, atrapalhando. Dar tempo para os outros. Para me permitir ser e permitir que as pessoas também sejam.
Na 1a visita pós-parto, 3° dia, após realizado a avaliação de Tâmara e Iana, observando o vínculo entre as duas, involução uterina e processo de amamentação, identificamos uma vibração familiar muito amorosa, com integração dos quatro de forma harmoniosa.
Artur não se cansava de expressar os sentimentos vivenciados durante todo o parto, referindo que ainda se mantinha sobre o efeito daquelas emoções, conforme seu próprio relato de experiência.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Relato da Lara - Algumas histórias e explicações

Por Lara Souto Santana

Olá,
Estou aqui ainda na maior adrenalina com este blog! É um prazer muito grande poder fazer parte desse projeto que é, ao mesmo tempo, despretensioso e grandioso, porque aqui falamos, sobretudo, de vidas que começam do jeito mais natural possível.

Pois bem! Amanhã é meu aniversário e acho muito interessante o fato de tudo isso ter começado nesta semana, motivo pelo qual achei importante fazer um balanço e reviver coisas boas para compartilhar com quem vier aqui.

Como comentei no primeiro post do blog, a Mary é minha madrinha e moramos em cidades diferentes. Isso aconteceu desde antes de eu nascer, mas ela é muito responsável pelo meu nascimento e pelo meu nome, que todos gostam tanto.

Vou contar uma coisa de cada vez: Minha mãe não sabia se eu seria menina ou menino. Se eu fosse menino ela queria Pedro, mas se fosse menina que nome colocar? Lia, Bruna? Precisaria ser um nome pequeno. Então, a Mary falou para minha mãe: "Por que você não coloca Lara?" Ela gostou, mas ainda faltava tempo pra nascer, né?

Daí eu surpreendi e me apressei. Minha mãe, que nunca tinha tido contrações, (o parto da minha irmã foi cesárea) ligou pra Mary e ela disse "isso é dor de parto!". No dia 02 de setembro eu resolvi dar o ar da graça (parto normal)! Como era muito prematura, tinha risco de morrer, então meu pai disse: "fala um nome só pra batizar aqui no hospital e a nenê não morrer pagã, depois você pode mudar o nome" e minha mãe: "Ela vai ser Lara, não vai morrer e eu não vou mudar" e foi isso que aconteceu! Vaso ruim não quebra!

Olha eu aí! Tão "linda"



No comecinho da minha infância, a Mary não morava em São Paulo. Só me lembro dela a partir de uns três/quatro anos de idade. Ela queria muito que eu a chamasse de "dinda/dindinha", mas eu não conseguia. Só dizia "Mary" (e até hoje é assim). A Mary diz que quando eu era pequena eu dizia "você não é minha madrinha, minha madrinha é a tia Dida!" Eu não me lembro disso, mas hoje eu encho a boca pra dizer "A MINHA MADRINHA é parteira, faz isso, faz aquilo...".

Então, quando eu era criança, ela vivia querendo me conquistar, comprar presentes que eu ia gostar: fita da Xuxa, patins, passeios ao parque do Ibirapuera, todas essas tralhas que crianças adoram. Lembro que ela trabalhava num hospital e às vezes trazia uns quites com shappoozinho e fralda para eu brincar de boneca! Nossa eu amava! Quando eu tinha uns nove anos, ela me deu uma Barbie que ficava grávida e tinha um bebê. Era um modo de eu me aproximar da profissão dela.

Depois de uns dois anos lembro de ela ter me contado que era voluntária na favela Monte Azul com a Angela, uma amiga alemã dela, e lembro até que estive na inauguração de uma casa de parto que até hoje existe lá. Hoje, porém, o nome é casa Angela.

Depois disso, ela voltou a morar na Bahia, mas eu sempre acompanhei um pouco do trabalho dela. Sempre achei muito bacana, sempre tive muito orgulho. Há uns cinco anos a dissertação dela veio parar na minha mão e vi que eu fui uma das pessoas para quem ela dedicou a dissertação! Foi tão interessante. Na época (anos 1990), eu era tão pequena e nem sabia o que era vida acadêmica. (Atualmente faço mestrado na área de Letras).

Sempre procuro saber dos partos que ela faz e aí ela me mandou o relato do nascimento da Déa. Achei tão bonito e, ao mesmo tempo, um desperdício que isso ficasse parado no computador dela. Foi aí que sugeri que ela abrisse um blog para compartilhar com todos essas experiências tão ricas.

Acho que o blog é uma maneira de nós nos aproximarmos um pouco mais! Uma causa muito nobre não acham? Então, estou aqui me despedindo de vocês e dos meus 25 anos (quanto!!!) com muita alegria de fazer o blog acontecer.

Um grande beijo a todos.

Lara

Relato do pai de Lis




Me chamo Leonardo Oliveira, brasileiro natural de Salvador e pai de Lis, uma menina muito especial e abençoada que nasceu no dia 12 de dezembro de 2010 aqui também em Salvador.
Sua mãe, Lais Barros, uma mulher determinada e muito corajosa sonhou e conseguiu realizar o nascimento de nossa filha em casa. Uma experiência mágica de indescritível grandeza!
Desde o início da gravidez essa idéia a acompanhava, que foi sendo amadurecida a cada dia com as práticas de yôga e assistindo a vídeos de partos domiciliares.
Foi chegando ao final da gravidez e ainda não tínhamos deixado nada certo, além disso, a mãe de Lais combatia o tempo todo contra essa idéia.
Tivemos a informação de uma enfermeira obstetra que realiza parto domiciliar, Mary Galvão, mulher forte e de grande conhecimento de parto natural, pena não termos a conhecido desde o inicio da gestação. Lais então, foi logo ao seu encontro, não tínhamos mais tempo a perder.
Ao chegar do trabalho, a encontrei muito feliz e entusiasmada. Ela me contou sobre a conversa que tiveram e que haviam marcado um segundo encontro para conversar comigo e com a mãe de Lais para esclarecer nossas dúvidas, criando assim um laço de confiança entre a gente.
Porém, o grande dia chegou e antes desse segundo encontro com Mary. No sábado, 11 de dezembro, Lais começou a sentir as contrações e a sua mãe ainda defendia a idéia de ter o parto no hospital, pois tinha muito medo que algo desse errado com a sua filha ou com o bebê.
Lais, contudo, não desistiu, ligou para Mary imediatamente e ela avisou que só iria chegar no outro dia pela manhã, pois estava fora de Salvador. Nos manteve, porém, tranqüilos, dando todas as coordenadas pelo telefone durante a madrugada.
Domingo, 12 de dezembro, às oito horas da manhã Mary chegou, trazendo com ela outra mulher, Susana Tapia, uma xamã parteira que veio do Equador para participar de uma conferência internacional de parto humanizado e por uma benção de um sagrado destino veio parar em nossa casa. As duas chegaram emanando luz para todos os lados nos deixando confortáveis e confiantes.
Mary fez o exame de toque e mediu 5 cm, em seguida, marcou o intervalo das contrações que estavam a cada 5 minutos.
Susana me pediu que eu conseguisse uma pequena piscina plástica para colocar Lais e eu fui correndo em um mercado comprar. Montamos embaixo do chuveiro e a enchemos com água quente para que ela pudesse relaxar.
Mary e Susana cuidaram muito bem de Lais durante todo o trabalho de parto, fazendo massagens, a alimentando e dando apoio com palavras de força.
Algumas vezes nos deixavam à sós para que vivenciássemos o nosso momento.
Assistindo ao trabalho das parteiras e depois de uma rápida conversa com Mary, Cláudia, a mãe de Lais, compreendeu a importância desse parto para a sua filha e se dispôs a ajudar também. Todos nós vibrávamos numa mesma força e harmonia para proporcionar um lindo nascimento a nossa pequena Lis.
O dia foi passando, deu meio dia, uma, duas, três, quatro horas e nada. Lá para as 6 horas da noite as contrações foram ficando mais intensas e vimos que era chegada a hora.
Mary e Susana foram preparara o “ninho” para o parto enquanto esperávamos no banheiro onde Lais relaxava na banheira.
Em seguida, fomos para o quarto e nos acomodamos em edredons forrados no chão. Encostei na parede e Lais se encostou em mim. A luz do quarto estava apagada haviam apenas velas, deixando um clima bastante confortável.
Susana como uma legitima xamã, fez um belo e poderoso ritual para chamar o bebê com ervas e cânticos. Que ritual! Inesquecível.
Passado alguns minutos, a bolsa rompeu, descendo muita água e então Lais ficou de cócoras dando inicio ao período expulsivo.
O nascimento em si foi rápido, ás 19:10 o bebê colocou a pontinha da cabeça para fora e escorregou nas mãos da Xamã, que me deu imediatamente para confortá-la e aquecê-la.
Chorei junto com a minha filha, foi fantástico! Em seguida a passei para a mãe, que a essa altura estava exausta e muito emocionada. Ficamos os três abraçados por um bom tempo até que chegou o momento de cortar o cordão umbilical.
Mary me instruiu como fazer e me passou o material. Antes de cortar, pedi permissão para a minha filha e sua mãe, pois ambas estavam conectadas há nove meses por ele. Foi um momento mais mágico do que o outro, com certeza não sentirei nada igual como nesse dia. Difícil descrever tamanha felicidade.
Nada disso seria possível sem essas mulheres: Mary com o seu conhecimento e total controle durante todo o trabalho, Susana, com o seu poder e sabedoria nos fazendo sentir protegidos a todo o tempo, Lais, minha companheira que com coragem e muito amor deu a luz a nossa filha de uma maneira tão linda e Lis, nossa pequena guerreira que foi quem escolheu ter vindo ao mundo dessa forma.

Abreviaturas

Bom dia!
Fiz para nós, os leigos, uma listinha com as abreviaturas utilizadas nos relatos da Mary. Já estaremos familiarizados quando os próximos vierem!

BCF – Batimentos cardíacos fetal
IG – Idade gestacional
LA – Liquido amniótico
SV – Sinais vitais
TP – Trabalho de parto
USG - ultrassonografia

Lara