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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Um pouco sobre amamentar


Por Liliana Silveira


Hoje, ao reencontrar uma amiga que está vivenciando a maternidade, ao mesmo tempo em que eu, tive a urgência de colocar aqui um pouco do que venho pensando há algum tempo. Conversávamos sobre a convivência com os nossos bebês. O meu filhote mais novo está com nove meses e a filhinha dela com um ano e três meses. Eu, bióloga, doula, assistente de parteira urbana. Ela, a minha amiga, bióloga e nutricionista. Não somos mulheres “leigas”, portanto, nas questões da vida, biologicamente falando. Eu, mais especificamente, sou nutriz (mulher que está em período de amamentação do filho) pela terceira vez.
Então, dentre outros aspectos da maternidade, estávamos revelando uma para a outra as nossas observações quanto às crenças que (talvez secretamente) cultivamos. A principal delas, a quantidade de leite que produzimos. Distraidamente, em dado momento da conversa concluíamos, um pouco saudosas, que nos dava muita segurança a grande quantidade de leite que tínhamos nos primeiros meses dos nossos bebês. Por outro lado, concluímos também que, aquela produção exagerada de leite, poderia ser um transtorno, se acontecesse durante um período longo. Atualmente, com bebês maiores, somos constantemente lembradas por pessoas próximas de que “não temos mais tanto leite” e que, portanto, “talvez” os nossos filhos não encontrem leite suficiente no seio... E que, talvez, seja realmente bom para eles tomar um mingauzinho, ou outro alimento que contenha leite de vaca.
Desde que me tornei mãe, percebo o quanto somos abaladas por questionamentos do mundo racional, como “quantidade” e “qualidade”. Em termos de aleitamento, concluí há muito tempo que devemos fazer exatamente o contrário: apenas deixar rolar... Filhotes humanos são semelhantes a outros filhotes de mamíferos em alguns aspectos. O que cabe aqui, das minhas observações com os meus filhos: bebês “sabem” encontrar leite em seios que estão aparentemente vazios. Como assim? Basta observar a tranquilidade que eles têm ao mamar. Simplesmente mamam. E a mãe que estava se achando “meio vazia”, logo sente a movimentação do leite em direção à boca do bebê. Tudo resultado da sabedoria da natureza. Se o objetivo é gerar a vida e garantir a sua continuidade, por que faltaria leite para o filhote?
Tenho nas minhas experiências a recordação de alguns momentos críticos para mães que amamentam. O primeiro deles, ainda nos primeiros dias do bebê, quando produzimos apenas o colostro. O colostro é um líquido transparente, riquíssimo em anticorpos (substâncias que protegem o organismo de doenças), que sai em pequeníssimas quantidades do seio materno. Segundo informação que obtive recentemente, a cada mamada o recém-nascido recebe algo em torno de uma colher de chá do colostro. Daí, ele precisar passar quase que todo o tempo literalmente grudado à mãe nos primeiros quinze dias após o nascimento. Além de receber o colostro, o bebê PRECISA do contato com o corpo da mãe, com os seus sons, movimentos e cheiros. Muito além da necessidade de mamar muito, o bebê está se adaptando ao mundo exterior, saído de ambiente escuro, quente e apertado, o útero materno. Lá dentro, era embalado pelos movimentos da mãe e estava fisicamente delimitado (protegido) pelo corpo materno. É preciso acolher o bebê. Dar para ele muito colo, carinho e peito de mãe.
No período pós-parto, é preciso que a mulher tenha um ambiente tranquilo a sua volta. Nada de relógios, cronômetros e julgamentos. Ela precisa sim, estar bem para estar disponível para o seu filhote (filhote mesmo, em termos animais, viscerais). Esse grude entre mãe e filho é essencial nos primeiros meses. Depois vai folgando, aos poucos, ao longo do primeiro ano de vida do bebê.
Quando uma mãe se sente insegura, assustada, deprimida, preocupada e desamparada provavelmente terá alguma redução na sua produção de leite. Quanto mais esses sentimentos se intensificam, geram tensão, que bloqueia a liberação de hormônios (prolactina e ocitocina, principalmente) importantíssimos para a produção e liberação do leite. Além disso, neste momento tão intenso e delicado está acontecendo a formação do vínculo entre a mãe e o seu bebê. Eles precisam verdadeiramente estar juntos.
Outro “probleminha” dos primeiros dias do pós-parto, os bicos dos seios rachados (ou fissurados). Se acontecer, geralmente é porque o bebê está abocanhando o bico do seio de forma “incorreta”, afinal, ele também está aprendendo a mamar. Ajuda observar como estão os lábios do bebê durante as mamadas. Eles devem ser completamente visualizados, como as bordas de um sino em volta da aréola do seio. E toda a aréola (a parte escura do seio), ou quase toda, deve estar dentro da boca do bebê. As rachaduras doem muito, podem até sangrar. Aconteceu comigo nos pós-partos anteriores. É preciso ter força de vontade e suportar a dor durante as mamadas por uns cinco dias enquanto os seios cicatrizam. Não precisa parar de amamentar, a não ser que seja, de fato, insuportável.  O próprio leite atua na cicatrização. Após cada mamada a mãe deve espalhar o leite sobre os mamilos e esperar secar, com o sutiã aberto. Se for possível secar ao sol, melhor ainda. Durante o banho, e apenas durante o banho, lavar somente com água. Funciona mesmo, melhor do que qualquer pomada ou creme cicatrizante. Enquanto não cicatriza, é bom ter alguém por perto, de quem apertar a mão e que possa lhe servir um copão bem cheio de água. Amamentar dá muita sede, e beber água na hora da dor, além de satisfazer a sede, distrai a atenção, dá sensação de alívio.       
Depois de passados mais ou menos quinze dias do nascimento, o leite materno está sendo produzido em abundância. Tanta abundância que, pela minha primeira experiência (há doze anos), concluí que poderia amamentar tranquilamente dois bebês. Neste período, os seios costumam ficar muito cheios e endurecidos. A pele fica muito esticada (às vezes brilha) e quente. O bebê pode não conseguir consumir todo esse leite (e geralmente não consome). A mãe fica aflita, pois os seios podem ficar doloridos, e os bicos, endurecidos. Daí, o bebê não conseguir abocanhar o seio para mamar. É chegado o momento de ter atenção e cuidado redobrados. É bom esvaziar os seios após as mamadas, pois o leite acumulado pode resultar em mamas endurecidas e doloridas (ingurgitadas), ou em mastite, um processo inflamatório. O leite extraído pode ser doado para uma maternidade, pois muitos bebês prematuros precisam de leite enquanto suas mães ainda estão a caminho de uma produção maior, que dê conta de nutri-los e fazê-los ganhar o peso necessário. A ordenha (é ordenha mesmo, igualzinho às outras mamíferas) das mamas pode ser feita manualmente ou com bombinhas específicas, manuais ou elétricas.
Quando bebê está maior, entre o segundo e o quarto mês, mais ou menos (deve ser assim, “mais ou menos”, “geralmente”... pois, não somos máquinas!), acontece um ajuste entre a produção de leite e a demanda do bebê. A mãe percebe que os seios não ficam mais tão pesados e endurecidos. Às vezes, o período coincide com algum acontecimento estressante, ou que mudou a rotina do bebê. E ele passa um ou alguns dias irritado, choroso. O primeiro pensamento é que o bebê está chorando porque o leite está acabando. E a angústia, inevitavelmente, se instala. Reside aí o perigo de ceder à tentação de oferecer algumas mamadeiras com leite artificial. Infelizmente boa parte dos pediatras conhece muito pouco do manejo da amamentação. Não sabem o que orientar e terminam sugerindo (ou receitando, o que é bem pior) algumas mamadeiras de leite artificial, para complementar a alimentação com leite materno. O problema é que o leite artificial é difícil de digerir, e o bebê que antes mamava em intervalos de uma ou duas horas, passa cerca de quatro horas sem sentir fome. Para algumas pessoas próximas pode ser até interessante perceber o bebê tão “tranquilo” ou dormindo por tanto tempo. Mas o que acontece é que as horas adicionais sem mamar ajustam a produção da mãe para menos leite. Desse modo, serão necessárias cada vez mais mamadeiras de leite artificial. Gradativamente (mas não muito devagar), o corpo materno se ajusta a produzir cada vez menos leite, pois, não está sendo solicitado através da sucção do bebê no peito. Resumindo, o corpo da mãe entende que o bebê está mamando menos e, portanto, deve produzir menos leite. Simples assim.
As mamadeiras são bonitinhas, coloridas, direcionadas para meninos ou meninas. O leite artificial ilude pela sua brancura e quantidade, pois pode ser preparado na quantidade desejada. Ilusão mesmo. Diante do leite materno, perde. E muito. Além de todo o valor nutricional e imunológico do leite materno, é bom lembrar que ele é específico para cada bebê, existe a importância da relação entre o bebê e o seio da sua mãe. O valor maior está naquelas horas intermináveis de aconchego, carinhos e conversinhas amorosas de amamentação.
É preciso acreditar que é possível, pois, ao contrário do que mostram as propagandas, amamentar não é fácil. Tem que querer e ter fé. Buscar ajuda e ouvir com o coração aberto, pois ele é capaz de perceber conselhos equivocados. É importante lembrar-se sempre que, independente do problema que te aflige, tem alguém que pode te ajudar. Mulheres que já amamentaram ou que estão amamentando e que gostam de amamentar são as melhores conselheiras. É que costumamos guardar registros dos momentos preciosos de nossas vidas, e a mulher que tem prazer em amamentar, a cada filho que tem, guarda as experiências como um aprendizado. Tem prazer em compartilhar o que sabe com as que estão precisando de uma ajuda. Amamentar um bebê é algo complexo, mas, ao mesmo tempo, também é simples como as coisas da natureza. As respostas nem sempre estão prontas, é preciso olhar a situação, refletir sobre ela, buscar informações nas trocas de experiências com outras mães.  E seguir amamentando, sem desistir! 
Amamentar ou aleitar um bebê é uma prática da Vida, que insere a mulher no mundo natural. Desperta ou fortalece o feminino (talvez) adormecido. A partir daí, ao olhar para outras mulheres, é possível perceber que compartilhamos dos segredos de um universo particular e sagrado.
Um grande abraço materno!

3 comentários:

  1. Gostei muito, Lili. Além de muito bem escrito, está bonito, sensível. Que bom que tenho uma irmã assim tão sábia e inteligente ao meu lado! É isso, porque me faz muito bem te ter por perto! Beijos!

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  2. ... também gostei muito! É um momento tão mágico entre mãe e filho. E realmente "o quanto somos abaladas por questionamentos do mundo racional, como “quantidade” e “qualidade”. Ainda bem que a internet está aí para auxiliar as mães e tranquilizar quanto algumas dúvidas.
    O blog está muito bom. Você mescla muito bem conhecimento adquirido e experiencia vivida!

    Parabéns!

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  3. olá, estou buscando uma doula! explico: uma amiga minha teve mastite, parece q foi sério, ocasionou asbcesso mamario e ela teve q operar e tomou remedio para parar de produzir leite. o bb deal só tem 3 meses, e dia 1 de outubro ela voltará a trabalhar. enfim, ela precisaria conversar com algm, com uma especialista, q além de apoio moral mostrasse a ela q é possível amamentar e tals. seria possível uma doula conversar com ela? é em salvador! desde já agradeço mto. mamairato@gmail.com

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