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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Parto de Paulinha, nascimento de Pedro









Por Mary Galvão

Relato do parto de Paulinha, em Salvador, ocorrido em 19/07/2011.

Paulinha, o relato do seu parto foi acidentalmente removido do blog, hoje estamos publicando-o novamente!

Antes de dormir (já que o sono não pode chegar num corpo banhado de "adrenalina de felicidade") resolvo relatar o parto para não perder nenhum detalhe por falha de memória.

Hoje tinha uma visita programada na casa de Paulinha (39 semanas de acordo USG) para conehcer seus pais e esclarecer para eles a simplicidade de um parto domiciliar, já que os mesmos estavam resitentes a decisão da Paulinha de parir seu filho Pedro em casa.
Chegamos à casa dela (eu e minha assistente, Paula Fernanda), exatamente as 16:10", a encontramos na sacada da casa em risos e abanando a mão em sinal de cumprimento cordial de baos vindas. Subimos as escadas até o 1o.andar, onde fica sua casa limpa, bem arrumada e muito bem decorada. Cumprimentamos e perguntamos quem estava em casa e ela nos informou, que estava sozinha porque Diu (seu esposo) estava providenciando as últimas coisas da lista de materiais para o parto, que havia lhe enviado dias antes. Lucas, o filho de 7 anos, estava na escola.

Aí, lhe dirigi a 2a.pergunta em tom de brincadeira: "E aí, este bebê nasce hoje ou ainda não é chegada a hora?". Ela calmamente respondeu: "Ah Mary, acho que ele nasce hoje mesmo". Ouvi a resposta e comentei: "Então é para hoje e não dia 20 como você havia estimado?". Ela nos respondeu calmamente, que, se não nascesse antes de meia-noite seria mesmo no dia seguinte, 20/07. Paulinha, a parturiente, questionou a outra enfermeira (também Paulinha), se o bebê nasceria mesmo. Paulinha (enfermeira), me olhando um pouco assustada comentou: "Será mesmo Professora que este bebê quer chegar hoje?". Com o olhar de parteira respondi ao tempo em que observava o comportamento de Paulinha, característico de parturiente: caminhando de um lado para outro ela alisava o abdome e mudava seu semblante de sorridente para sério. Mas mantendo muita calma.

Cinco minutos após a nossa chegada ela nos convidou a tocar seu ventre. Contraído, muito contraído. Então percebi que se tratava de contrações de boa intensidade. Questionei então desde que horas aquelas contrações aconteciam e ela me respondeu que "desde umas duas horas da tarde". Que tinha começado bem fraquinho pela manhã e logo depois do almoço foram ficando cada vez mais perto e mais dolorosas. Questionei por que ela estava tão calma. Ela retrucou que "já sabia que ia ser assim mesmo...". Conversamos meia hora, mais ou menos, enquanto eu observava seu comportamento. Sugerimos uma avaliação mais criteriosa, no quarto e ela achou legal ouvir o coração de Pedro e avaliar as contrações com tempo cronometrado. Fizemos isso e ela então pediu mais informações. Achamos interessante fazer o exame de toque para proceder uma avaliação mais detalhada.

Encontramos dados muito interessantes: contrações de 10 em 10 minutos com duração de 30 segundos, colo maduro, central, pérvio para 5 cm. Então, trata-se de franco trabalho de parto. Resolvemos pedir a Diu, o marido que já retornava para casa, para ir apanhar o material necessário (minha pasta de parteira). Paulinha prontamente sugeriu que fossem à UNEB, onde estava todo material, e se prontificou a ir junto. Saíram de casa por volta das 17 horas e retornaram as 19 hora,s com a pasta. Só fiquei triste porque faltou a balança e as ervas que gosto de utilizar para atrair os bons fluidos das parteirinhas e rezadeiras da floresta.

Nestas 2 horas em que ficamos sozinhas observei que Paulinha mudava várias vezes de posição, embora continuasse muito calma! O telefone da casa tocou e era sua mãe pedindo informações a respeito de um cliente de Paulinha. Ela orientou detalhadamente o caso, sem deixar sua mãe perceber que ela estava em TP... A mãe tornou a telefonar mais duas vezes, até que Paulinha lhe disse que eu estava em sua casa e que ela ia ter que desligar o telefone por alguns minuto, para me dar atenção. Voltou a sentar-se no sofá e falou comigo que não gostaria de ter sua mãe perto dela nesse hora porque a mãe era muito diferente dela e muito preocupada.

Ainda no controle da situação, ligou várias vezes para seu marido e em seguida para uma amiga pedindo uma câmera fotográfica emprestada... Por volta das 18 horas chegou sua mãe, gritando embaixo. Ela saiu na varanda, jogou a chave da casa e me falou baixinho: "É minha mãe, mas ela não vai demorar e não deixe ela perceber que estou já com contração...". A mãe dela é bem jovem e muito simpática. Após a apresentação, conversei com ela sobre os detalhes de um parto domiciliar e afirmei que em casa o parto é mais seguro que no hospital e apresentei as justificativas para minha opinião. Observei que ela confiou em minhas informações e quando percebi que ela ia demorar me preocupei porque ao invés de ficar dando atenção à mãe de Paulinha queria estar com ela no quarto. Então dei um jeitinho (coisa de parteira) de mandar a mãe se retirar com a desculpa de que queria ir assistir a novela e fui me afastando da sala. Ela ficou sem graça e foi embora. Eu ainda lhe disse: " Paulinha ainda ganha bebê esta semana viu?". Ela então retrucou para mim que tudo bem, pois agora estava mais tranquila com as informações recebidas e que não queria assistir ao parto.

Ela foi embora por volta das 18:15, aí percebi que estava na hora de começar a anotar a dinâmica uterina. Foi quando constatei que tratava-se de fase ativa do TP. Paulinha já estava com as contrações a cada 4 minutos, com 40 segundos de duração e com ritmo e intensidade progredindo francamente.

Perguntei a ela se estava com sede ou fome. Ela então respondeu que sim. Sugeri um caldo de legumes e ela topou. Neste momento ela levantou-se do sofá da sala de TV e foi até a cozinha. Separou os legumes e me entregou. Sentei-me a seu lado (no sofá da sala) e comecei a descascar, enquanto observava seu jeitinho tranquilo e antenado a tudo a sua volta controlando cada detalhe da dinâmica da casa.
Paula Fernanda, Diu e o filho Lucas retornaram por volta das 19:15. O parceiro entrou em casa muito feliz chamando por Pedro e brincando perguntava se já tinha nascido. Se aproximou da esposa e lhe acariciou com muito afeto. Fui à cozinha olhar a panela e depois de 10 minutos por lá voltei e convidei Paulinha a vir até a cozinha para tomar seu caldo de legumes junto com o marido e e filho, visando incluí-los no processo. Ela sentou-se na mesa com a família, mas logo retorceu-se na cadeira e informou que não queria comer. Em seguida levantou-se e foi para o seu quarto, deitou-se na cama e afirmou que estava "doendo muito". Nós três (eu. Paulinha enfermeira e o marido) nos aproximamos e perguntamos se ela queria ir para água. Ela disse que ainda não.

Durante mais ou menos 20 minutos observei que Paulinha explicava tudo para Lucas e lhe chamava para perto ao tempo em que começava a retorcer-se e mudar de posição, demonstrando muita dor. Paula Fernanda (enfermeira) entrou em cena, sugerindo massagens. Começou a fazer massagem na região lombo-sacra e vi que Paulinha se ajoelhou na sala em busca de alivio de uma contração poderosa.

A partir desta hora (20:15), ela mudou seu comportamento totalmente, inquieta, gemente, ela se entregou totalmente ao processo e saiu do controle de seus papéis de mãe, esposa, dona de casa. Passei a observá-la mais de perto, tempo em que comecei a controlar os BCFs com mais frequência (30/30 min). Na posição em que ela adotava a gente se agachava para ouvir o bebê.
Ai Paula Fernanda voltou a perguntar se ela queria ir para a água. Paulinha, deitada de quatro, na sala, totalmente mudada e entregue respondeu que queria. Aquecemos mais água e a levamos para a BACIA GRANDE, MUITO GRANDE. Lá no banheiro passamos uma hora lhe massageando a região lombar e a cervical, lhe dirigindo palavras de apoio e força. Continuamos aquecendo água no fogo, jogando em seu corpo e ouvindo seus gemidos, numa verdadeira atitude de mamífera ela tomou posse da situação e começou a uivar, gritar e chamar por Pedro.

Por volta das 21 horas ela pediu para sair da água gritando: "Vai nascer, tá nascendo, tá aqui, estou vendo, tá aqui...!" Ajudamos ela a chegar no local que escolheu para dar à luz seu bebê. No quarto, no cantinho forrado antecipadamente por nós. Ali chegando, adotou a posição de quatro e começou a gemer e gritar, chamando o filho várias vezes: "Vem Pedro, vem meu filho...", num mantra forte e determinado. Naturalmente seu filho atendeu seu chamado e despontou na vulva, forte e determinado como a mãe. Vimos que a cabeça de Pedro coroou. Sugerimos ao pai tocar a cabecinha do Pedro e os dois entraram em fase de muita euforia, mas logo se acalmaram, deixando a beleza do sagrado adentrar o ambiente e fazer o grande milagre da vida acontecer.

Às 21:27 Pedro nasceu de parto natural, sem ocitocina, sem corte de períneo, sem nenhuma manobra invasiva, com 2 toques vaginais. Ao nascer ele foi avaliado e obteve Apgar 9, no 1o minuto e 10, no 5o. minuto de vida, mesmo com uma circular de cordão, que foi desfeita sem dificuldade. Paulinha continuou agachada no cantinho, com sua cria agarrada ao corpo, lambendo, chorando e aquecendo com seu calor de pós-parto, enquanto eu pedia ao pai para cortar o cordão em clima de respeito ao momento tão especial. Ela gemeu e queixou-se de cólicas. Observei que eliminava a placenta, liberada em mecanismo de B.Shultzs, em face fetal, espontaneamente. Olhamos para ela, agradecemos sua função nutridora e logo em seguida fomos ao quintal da casa para o destino merecido. Eu, Paula Fernanda e o pai, todos gratificados pela sua generosidade durante os 9 meses em que nutriu e embalou Pedro no ventre da mãe, enterramos a placenta num vaso, onde foi plantada uma muda, escolhida previamente por Paulinha, para simbolizar o nascimento e o crescimento de Pedro, assim como a própria Vida.

O parto, portanto, não necessitou de nenhuma manobra ou procedimento, exceto de belos chamados dos pais, que entoaram para o filho palavras de amor e convite, encorajando-o para a grande travessia entre o ventre e o colo de sua família, tão amorosa e acolhedora.

Cuidamos de secar Pedro ainda no colo de Paulinha, que não se conteve e derramou muitas lágrimas de felicidade. Olhando o filhinho, encantada, murmurava lindas palavras de afeto. O pai chorava e repetia "Esta é uma coisa de Deus não é? Que lindo, que lindo!". Enquanto isso, Lucas, eufórico, entrava e saía do quarto várias vezes demonstrando o encantamento diante da cena simplesmente LINDA com a qual a vida lhe presentou, ver a chegada de seu irmãozinho.

Esta foi mais uma história de amor e ternura que a vida me deu a honra de poder participar. Sou muito grata à vida, ao mestre e a Paulinha por ter me permitido ajudá-la a viver uma experiência tão gloriosa... Quiçá um dia todas as mulheres possam viver o milagre do parto e do nascimento de um filho nesta vibração de amor e plenitude.

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