Por Jaiana Meneses
Acho que minha maior dificuldade pra escrever este relato foi a “simplicidade” como tudo transcorreu. Mas escrevo não somente por uma memória nossa de família, como também pelo fato de ser absolutamente incomum nos dias de hoje, em grandes centros urbanos, receber um bebê neste mundo com tanto amor e da forma mais natural.
Já estávamos celebrando a chegada de Nina dias antes de ela
nascer! Mary, a parteira, esteve em nossa casa para a visita dos pródomos e fez
um festival de pizza e beijus maravilhosos. Um dia depois, domingo, nos
encontramos com Mary em sua casa com outros amigos e pessoas interessantes para
um papo animado. O clima de expectativa era geral: meus pais chegaram em nossa
casa semanas antes para nos ajudar com os preparativos e nos cuidados com Noa,
nosso mais velho de 1 ano e 8 meses;
Mary me ligava toda manhã para saber como eu estava; bom, eu podia entrar em
trabalho de parto a qualquer momento e fomos nos despedindo da gravidez com
serenidade. Eu tive a oportunidade luminosa de decidir com consciência,
responsabilidade e apoio de todos os lados a melhor forma para o nascimento da
minha filha. Meu único receio e não propriamente medo, era, por ventura,
precisar ir para o hospital e passei a trabalhar isso na prática durante toda a
gravidez a partir de um conselho de Anne, profa. de yoga, que me disse que
recomendava sempre que as mulheres pudessem mapear seus medos durante a
gravidez e pontuassem o que podiam fazer para solucionar esses problemas.
Organizamos toda a casa, onde ficava cada coisa pro dia do
parto, quem ficava com o neném mais velho, quem ficava comigo, se tiver que ir
pro hospital, onde ir, o que fazer, etc, enfim, toda a estrutura e o que fosse
possível fazer e até onde eu me limitava, para que no dia eu não me preocupasse
com nada, só focasse no meu corpo e na chegada de Nina.
Chegamos da casa de Mary
naquele domingo às 9 da noite. A meia-noite liguei para ela e disse que
sentia umas contrações mas não tinha certeza se já era mesmo o trabalho de
parto, poucos minutos depois pedi para Haki, meu esposo, ligar pra ela e
confirmar que eu estava em trabalho de parto. Não demorou muito e Mary chegou
com sua amiga parteira Marylanda e Ula, sua amiga antropóloga que investiga o
parto e assistiria pela primeira vez um parto domiciliar. Quando elas chegaram,
eu estava ninando meu mais velho que já parecia pressentir o que estava
acontecendo pois não conseguia voltar a dormir. Combinamos previamente que meus
pais e Noa não ficariam em casa na hora do parto, nenhum dos três agüentaria
tanta emoção. Mary sugeriu que era melhor ele passear com meus pais na praia e
se distrair naquele momento.
Mary cuidou para deixar a casa com a atmosfera de ritual,
aromatizou os cômodos com incenso e chás e nosso quarto ficou na penumbra,
iluminado em alguns cantos com velas.
Eu fui para o quarto e esqueci do mundo para me concentrar
em Nina - eu não tinha nada mais com que me preocupar: Noa estava seguro,
parteira estava em casa, família por perto...A contrações começaram a se
intensificar mais e mais, me fazendo me espremer e me contorcer de dor algumas
vezes, as mãos milagrosas das parteiras aliviavam muito, elas iam nos pontos
certeiros para dissipar a dor. Senti uma mistura violenta de todas as sensações
possíveis, sentimentos de agonia, raiva, alegria imensa, tristeza, ansiedade, cada
vez que sentia tudo isso vomitava. Lembro que ás vezes eu tinha um sorriso
involuntário nos lábios e outra hora queria chorar muito...
Do nosso quarto tem uma janela onde se avista o mar e
Salvador ao fundo, Mary me levou até lá e me disse algo mais ou menos assim
“respira. olha o mar. que noite bonita. fica tranqüila que yemanjá tá com você”.
E lá vou eu, andando pra um lado e pro outro do quarto, me abaixava com um
travesseiro durante as contrações, chamava inúmeras vezes Haki para me abraçar.
A certa altura, falei pra Mary que precisava tomar um banho quente, ela
aproveitou também e me deu um banho de chá de várias ervas e me disse com os
olhos brilhando radiante que elas achavam que com mais três ou quatro
contrações, Nina nasceria. Eu estava incrédula, pra mim ainda enfrentaria
muitas horas ainda de contrações e achei que Mary falou aquilo pra me animar –
mas dito e certo, quando saí do chuveiro já estava em franco período expulsivo,
me abaixei ao lado da cama de joelhos e comecei a gritar muito, quando eu
duvidei se aguentaria mesmo, Nina já estava nascendo, eu apoiei meus braços em
Haki e fiquei na ponta dos pés, Mary e Marilanda me abaixaram quando o corpo
estava saindo. Mary depois me contou que tinha receio de o cordão umbilical se
romper bruscamente na saída de Nina se eu tivesse ficado em pé todo o
expulsivo. Depois que ela nasceu vieram as contrações para expulsar a placenta.
Mary deu a tesoura para Haki cortar o cordão e ficamos todos bobos olhando para
aquele serzinho, que nasceu com vontade de mamar. Ela nasceu às 3 da madrugada,
com 3, 400kg, 48 cm.
É um alívio parir, sinceramente. Depois de todos os meses
aguardando o tão esperado parto, principalmente nos últimos meses que aumentam
os incômodos comuns da gravidez. Meu alívio maior foi ver que tudo ocorreu bem,
que eu e ela estávamos bem fortes, saudáveis. Depois disso todomundo foi
dormir. Acordamos numa manhã gloriosa e Mary conduziu o ritual para enterrar a
placenta no jardim, com ela está plantamos uma jasmim branca.
Amei estee comentario!Mto sincero e verdadeiro!
ResponderExcluirAs palavras mto bem colocadas e a cada momento q li...fui percebendo a veracidade de cada emoção...Parabéns!!!!!
que Nina linda a sua! a minha também é linda!
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