Por Mary Galvão
No primeiro contato com Jaiana percebi sua forma singular de estar na vida. A leveza de sua presença me encantou e facilitou a construção de nosso vinculo de amizade. Nas consultas iniciais quando ela apresentava alguma dúvida sobre a evolução da gestação, escutava com muita atenção tudo que tinha para elucidar. Ela me contou que morava na Ilha e automaticamente imaginei "Ah! ela é tranquila desse jeito pq não sofre a influência do stress da cidade grande. Mas a medida que fomos nos aproximando, descobrir que Jaiana é calma por essência. Um dia estávamos na lancha fazendo a travessia da Baia de Todos os Santos e o mar estava muito agitado, ela estava sentada com seu filhinho Noa (de apenas 1 ano e meio) enquanto do seu lado um rapaz vomitava em jatos, mas ela se quer se movia do seu lugar. Ana, sua mãe, em atitude de proteção sugeriu tirar Noa do seu colo por conta desse triste episódio, mas ela permanecia serena. Foi também sua mãe quem me contou um outro episódio de sua adolescência que ilustra muito bem a natureza de sua filha. Segundo descrição de Ana um dia Jaiana ao abrir a mochila na escola, percebeu que lá dentro tinha uma lagartixa.. Ela simplesmente e continuou retirando os livros um a um, bem tranqüila e somente depois de esvaziar toda mochila, sacudiu a sacola e a lagartixa saiu. Imagine uma adolescente que não se aflige se quer com um bichinho dentro de sua bolsa. Pois é dessa mulher equilibrada que vamos relatar o parto. Sua beleza brejeira é marcadamente acentuada pela serenidade dos gestos e do olhar profundo e calmo, expressando mistério e doçura. Sua forma de maternar Noa revela também suas características. Noa é um menino lindo e muito alegre. Com educação cuidadosa, tem regras estabelecidas pela mãe que sabe atender suas necessidades de atenção com firmeza e afeto. No primeiro encontro com Noa iniciamos uma relação especial através da música e do contato com o bebê. Fui fisgada por ele no momento em que o conheci.
Todo o período gestacional de Jaiana foi acompanhado por mim e por uma médica de sua confiança. Durante o processo ela só apresentou uma queixa que foi atendida de uma forma muito natural. As vezes que lhe visitava para realizar a consulta pré natal no domicilio observava que ela continuava com muita disposição para os cuidados com a casa e com o pequeno Noa. Ela também não abria mão de suas atividades de lazer. No mês de agosto teve uma programação extensa de passeios acompanhando os pais de seu marido Haki. Visitaram a Chapada Diamantina e tantos outros pontos turísticos.
Chegando ao 9° mês, acreditávamos que ela iria reduzir suas atividades. Ledo engano, ela continuou ativa em seus papéis de mãe, filha e e esposa cuidadosa. Nos finais de semana me visitava em Itaparica. Sempre em família mediando com maestria os papeis familiares.
Aguardávamos o parto para a lua cheia de novembro, dia 10, mas no domingo,dia 6, ela esteve em minha casa e lá reunidos com os amigos celebramos a chegada do calor ameno da primavera depois de um grande período de chuvas. Marilanda (amiga e enfermeira obstetra do Raio de Janeiro) e eu oberservamos que embora Jaiana permanecesse sentada tranquilamente em volta da mesa durante um grande período, seu abdome (barrigão) estava mudando de forma (endurecendo) e intuímos um inicio discreto de TP.
Aguardávamos o parto para a lua cheia de novembro, dia 10, mas no domingo,dia 6, ela esteve em minha casa e lá reunidos com os amigos celebramos a chegada do calor ameno da primavera depois de um grande período de chuvas. Marilanda (amiga e enfermeira obstetra do Raio de Janeiro) e eu oberservamos que embora Jaiana permanecesse sentada tranquilamente em volta da mesa durante um grande período, seu abdome (barrigão) estava mudando de forma (endurecendo) e intuímos um inicio discreto de TP.
Jaiana e sua família sairam lá de casa as 21 hs sem apresentar nenhuma queixa. Depois de organizar a bagunça da casa com a ajuda de Henrique(grande amigo), fui descansar porque estava muitíssimo cansada. Deitei por volta das 23 hs e uma hora depois meu celular tocou. Era Haki informando que o TP havia iniciado. Vibramos e saímos, eu, Marilanda e Ula (amiga antropóloga que havia combinado previamente com Jaiana que iria assistir seu parto).
Chegamos na casa de Jaiana em 30 minutos porque o histórico obstétrico de Jaiana revelava que seu primeiro parto foi muito rápido. Ora, se o primeiro parto teve duração de 3 horas imaginávamos que este poderia ser ainda mais rápido.
Encontramos Jaiana deitada ninando Noa que intuitivamente percebia a chegada de sua irmã, pois estava apresentando dificuldade para dormir. Logo que me aproximei dela e coloquei as mãos sobre seu ventre, constatei que tratava-se de contrações muito fortes e, portanto, TP adiantado... Sinalizei que ela precisava agora de seu tempo, de focar na evolução deste processo. Jaiana então chamou Ana e pediu para ela cuidar de Noa. Previamente ela já havia decidido que durante o parto ela só queria a companhia de Haki e de nossa equipe. Ana e Jaime (Pai de Jaiana) levaram Noa para praia. E aí subimos para seu quarto onde ela dedicou-se ao trabalho com a mesma calma que é típico de seu temperamento. Ela subiu para seu quarto e permaneceu caminhando de um lado para outro por exatamente duas horas. Focada em seu corpo, Jaiana não falava e nem gemia. Observei que dava alguns comandos para o marido muito discretamente, sussurrando em seu ouvido. O sintoma que lhe incomodou muito, foram os três fortes episódios de vômitos... Ela vomitou todo o conteúdo gástrico enquanto Marilanda e Ulla colaboravam com prontidão e rapidez para manter a higiene e harmonia do ambiente.
O período expulsivo chegou rapidamente e somente nestes últimos minutos do TP, eu ouvi Jaiana gemer e pedir ajuda a Haki, que não se afastava dela por nenhum minuto. Amparando-a de forma muito gentil e protetora, foi muito parceiro! Dividiu amorosamente este período difícil com ela. Teve um momento inclusive que ela pediu para ele: "fale alguma coisa Haki! e ele lhe sussurrou no seu ouvido , mas ela já em estado de transe retrucou: “cale a boca, Haki”.. agora ele já não sabia mais como se comportar, e olhando para mim num gesto de cumplicidade questionou “O que posso fazer para ajudá-la?”. Ele não sabia que para esta difícil travessia, somente ela era capaz de fazer. Lhe fiz um gesto de que ela era capaz! “Sei que ela pode”... Jaiana continuava agachada no chão de seu quarto, buscando o apoio da cama.. neste momento sabíamos que era chagada a hora de aparar o bebê... puxamos o acolchoado para perto dela, mas rapidamente ela levantou e foi para janela gemendo alto (pela primeira vez) buscando ar através de uma respiração forte no vento fresco soprado do mar... as ondas batiam na areia trazendo aquela sonoridade bem agradável pra embalar a sua coragem. Era chegado o momento de abrir e liberar sua cria. Me abracei com ela e sussurrei ao seu ouvido "Ouça Jai, as ondas do mar, é a mensagem de Yemanjá trazendo mais força para você agüentar só mais um pouquinho!”Ela se agachou e levantou-se novamente num gesto decidido e se alongando ao máximo, fazendo muita força vejo Jaiana EM PÉ, escorada em seu companheiro, ajudando com vontade, seu bebê a nascer...em uma única contração, a cabeça de Nina corou. Me aproximei dela e por trás comecei a proteger seu períneo....E depois da cabeça nascida foi necessário ajudá-la a agachar-se para acabar de nascer o corpinho de Nina, que completamente rosada, estreou neste planeta, na praia de Gamboa, as 3:05 de 7 de novembro de 2011 , com saúde perfeita avaliada por Apagar com nota 9 no primeiro minuto de vida e 10 no quinto minuto.
A alegria contagiante iluminou toda a casa e a equipe festejou com risos a beleza desse nascimento absolutamente natural num cenário de exuberante beleza, com céu claro, lua brilhando no céu da Ilha de Itaparica. Jaiana recebeu Nina no colo com muita concentração, olhando tudo a sua volta, agora de volta ao planeta terra, começa a construir o novo vinculo materno, olhando nos olhos de sua filhinha com o amor maternal que afirma mais uma vez, a plenitude deste laço, inegavelmente eterno e sagrado!
Depois de aguardar o tempo suficiente para ela embalar e se enamorar de Nina, eu entreguei a Haki a tesoura para ele fazer a separação entre a mãe e bebê Após eliminação da placenta e realizados os cuidados de higiene e conforto, fomos todos descansar.
Marilanda, Ulla e eu sentimos a necessidade de reverenciar a força da Lua Cheia. Subimos as três para o mirante, onde contemplamos o céu iluminado e em atitude de reverência, comungamos o poder deste momento.
Retomamos ao cenário do nascimento duas depois para dar o primeiro banho de Nina. Ai organizamos todo o material, chamamos Noa, o pai, os avós e deu-se então a sessão de fotos com Nina pousando em grande estilo para toda sua família. Em seguida, realizamos juntos o exame físico e as medidas da pequenina: estatura de 48 cm , peso de 3.400kg, e perímetros compatíveis a sua estrutura biofísica.
Concluído esta parte gostosa do pós-parto, fomos todos ao jardim para que Haki realizasse o enterro da placenta e plantasse o jasmim que Jaiana havia escolhido para crescer junto com Nina.. Neste curto trajeto percebi que Noa batia sua panela como um tambor improvisado adorando participar deste ritual de cavar e mexer na terra imitando seu pai.
Concluído esse trabalho, viemos todos para a mesa, festejar este acontecimento com um delicioso café da manhã que foi caprichosamente preparado por Ana que teve a boa iniciativa de assar suas empadinhas de frango.
O sol já estava alto no céu quando a equipe pediu licença para um relax! Era hora de partir e deixar a família em clima de intimidade e celebração.
Depois de algumas horas de sono profundo, levantamos animadas para mergulhar no mar Azul de Yemanjá gratificadas mais uma vez pela honra de ajudar trazer ao mundo, crianças belas como Nina e comungar com mulheres poderosas como Jaiana que sabe nutrir sua família com a força feminina e a leveza grandiosa de sua alma baiana.
Nossa! Jaiana, que emoção ler tudo isso, lágrimas me vêm aos olhos, que lindo, que místico, que belo, que primordial! Isso é a natureza! Super feliz, emocionada, encantada e admirada de todo o seu processo, o parto, a presença do pai amigo e companheiro, cortar o cordão umbilical enterrar a placenta, nossa é um ritual porque assim deve ser a vida, um ritual, não podemos vir ao mundo de forma tão corriqueira e fria como tem sido nos hospitais, produção em série que não permite a especificidade de cada ser! Hoje, este ritual por quel Jaiana, Nina, Noa e Haki passaram juntos cada um de uma forma, é um privilégio, temos que resgatar tais práticas! Muito amor paz saúde felicidade, e sim, de verdade, Jai sempre foi serena, calma e tranquila e o contato com a maresia alimenta-a! maíra.
ResponderExcluirNossa! É grandioso demais a força que teem essa minha amiga Jai.
ResponderExcluirMuito FELIZ por você linda.
Fabiana Machado
Imaginei toda a cena e o cenário deste seu momento tão belo encharcada de emoção! Parabéns pela coragem! Você sempre foi admirável, exatamente como fora descrito! Um beijo grande!
ResponderExcluirDébora Benvenutti - sua colega de CISO